ZH 19 de setembro de 2014 | N° 17927
PNAD RETRATO DE 2013
Desigualdade e concentração de renda se mantêm no país. A desigualdade entre os trabalhadores assalariados aumentou levemente, no ano passado, mas pode ser considerada estável. Aferida pelo Índice de Gini, chegou a 0,498 (quanto mais perto de zero, menor a diferença entre os extremos de renda) em 2013, ante o 0,496 de 2012.
A presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Wasmália Bivar, observou que, apesar de estagnada tecnicamente, a desigualdade salarial continua alta no país. Para a dirigente, os ganhos das políticas sociais, lançadas para diminuir a concentração de renda, podem ter batido no limite.
– Encontrar agora uma estabilidade significa dizer que obtivemos resultados, especialmente nos programas sociais, mas chega uma hora em que é preciso pensar em outras políticas focadas na distribuição de renda – disse Wasmália, ao divulgar a Pnad.
DADOS RESPINGAM NA CAMPANHA ELEITORAL
Os resultados apresentados ontem pelo IBGE tiveram reflexos na campanha dos três principais candidatos à Presidência. A candidata do PSB, Marina Silva, disse que a interrupção na queda da desigualdade e o aumento do desemprego são resultado de “políticas erráticas” do governo Dilma Rousseff.
– Como se não bastasse o crescimento baixo, a volta da inflação, a elevação dos juros, agora temos o retorno da concentração de renda, que estava fazendo uma inflexão para baixo – criticou Marina.
Os ministros da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, e de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campelo, saíram em defesa do desempenho do governo federal. Neri usou dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também feita pelo IBGE, para afirmar que este ano já registra a maior queda na desigualdade da última década.
– Se a gente olhar a desigualdade como acesso a um conjunto de bens e direitos, ela vem caindo – disse Tereza Campelo.
Candidato do PSDB, Aécio Neves, afirmou que o Brasil ainda tem uma média salarial muito baixa:
– A administração da pobreza faz bem ao projeto do PT.
DESIGUAL ENTRE GÊNEROS, RENDA CRESCE
Ganho médio dos gaúchos aumentou 11,4% em 2013 em relação ao ano anterior, o dobro do rendimento no Brasil no ano passado. No país, desemprego cresceu, enquanto número de trabalhadores com carteira assinada teve elevação
Dentre a série de dados referentes a 2013 divulgados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), há uma notícia alentadora e outra preocupante.
A boa novidade: o salário médio cresceu no Brasil – especialmente o dos gaúchos, que subiu 11,4%, dobro do desempenho nacional.
A má: o desemprego aumentou no país, batendo em 6,5%, contra os 6,1% de 2012.
Realizada desde 1967 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pnad traça, anualmente, um retrato da vida da população. No que diz respeito ao bolso, o salário melhorou, mas o desemprego assusta. Os gaúchos empregados estão aliviados: o salário passou de R$ 1.647, em 2012, para R$ 1.835, em 2013. Mas persiste a desigualdade entre homens, que ganham R$ 2.088 mensais, e mulheres, ainda recebendo R$ 1.515 em 2013. Pesando prós e contras, o cenário econômico é de estagnação.
– Pode-se dizer que cresceu o poder de compra do salário. Isso é significativo – destaca Ely José de Mattos, professor de Economia da PUCRS.
Mas convém ficar atento. Quando se fala na balança do trabalho em todo o país, enquanto o prato do salário subiu, o do emprego baixou (veja ao lado). E a situação nacional pode piorar. Levantamentos relativos ao primeiro semestre deste ano apontam um índice de desocupação ainda maior, inclusive entre os trabalhadores com carteira assinada.
Ao analisar a Pnad, Ely Mattos constata que se ampliou o abismo entre os maiores e os menores salários. A faixa de 5% dos trabalhadores mais privilegiados ganhou, em 2013, a média de R$ 9.861 por mês – o que representa 29,3% da renda total. Já os 80% de empregados recebeu a média de R$ 2,5 mil – ou 43,9% do bolo salarial.
– Este é o tamanho da desigualdade – destaca o professor de Economia da PUCRS.
PAÍS TEM 13 MILHÕES DE ANALFABETOS
A economista Lucia Garcia ressalva que o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), onde atua, produz levantamentos com métodos diferentes do IBGE/Pnad. Os resultados apresentam leves variações sobre renda e trabalho. No entanto, a conclusão é parecida: o Brasil está estagnado.
– Não melhora, o que é lamentável, mas não piora – define Lucia.
No caso do RS, a economista diz que os setores de comércio e serviços estão com taxas satisfatórias de emprego. A indústria, ao contrário, desacelerou com os dias parados durante a Copa do Mundo.
No que diz respeito à educação, o Brasil obteve um pequeno avanço, mas insuficiente para debelar a chaga do analfabetismo. De 2012 a 2013, houve redução de 0,4 ponto percentual entre os que não sabem ler nem escrever. Mesmo assim, a população de analfabetos a partir dos 15 anos de idade foi estimada em 8,3%, o que corresponde a 13 milhões de pessoas na escuridão no país.
KAMILA ALMEIDA NILSON MARIANO