EFEITO CASCATA. Outras categorias da segurança também exigem calendário de reajuste - PEDRO MOREIRA, colaborou Letícia Duarte - zero hora 06/01/2012
A comemoração durou pouco. O alívio pela conquista do acerto salarial com os delegados na noite de quarta-feira, após longa negociação, acabou se transformando em dor de cabeça para o governo do Estado ao longo do dia de ontem. A quinta-feira foi marcada por manifestações indignadas de representantes das outras categorias da Segurança Pública, descontentes com o que consideram tratamento diferenciado oferecido pela administração estadual às autoridades da Polícia Civil.
A reação confirmou a perspectiva de que o calendário de reajustes aos delegados desencadeasse um efeito cascata de reivindicações. O presidente da Ugeirm-Sindicato, que representa escrivães, inspetores e investigadores de polícia, Isaac Ortiz, confirmou a manutenção do indicativo de greve, apesar de haver uma audiência marcada com representantes do governo para a sexta-feira da próxima semana, quando deve ser detalhado um calendário de aumentos para a categoria. Ortiz deu tons de dramaticidade ao avaliar o impacto que a proposta aos delegados causou nas demais categorias da polícia.
– Essa oferta caiu como uma bomba na polícia. Uma revolta muito grande, um clima de insubordinação e de rebeldia. Não tem como trabalhar com uma diferença de 720% no salário de delegado de primeira classe e um agente de primeira classe – criticou o presidente da Ugeirm.
O descontentamento também atingiu a entidade que representa os servidores de nível médio da Brigada Militar, a Abamf. A associação não descarta realizar assembleia conjunta com representantes de servidores da Polícia Civil para pressionar o governo. Uma reunião com representantes do Palácio Piratini agendada para ontem foi remarcada para a manhã de hoje.
– Os brigadianos estavam revoltadíssimos, porque no nosso acordo (salarial) disseram que não iam dar nada diferenciado para outras categorias. Mas não foi o que aconteceu. Ficamos preocupados porque não cumpriram com o acordo – criticou o presidente da Abamf, Leonel Lucas.
O chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, já esperava pela avalanche de pedidos de reuniões e audiências encaminhados pelas entidades representativas. Ainda na quarta-feira, o secretário adiantou que chamaria todas as categorias da Segurança para retomar as negociações ao longo das próximas semanas. O governo considera um trunfo para as futuras tratativas o fato de que o calendário de reajuste para os delegados conceda reajustes apenas a partir de 2013.
– Desconheço um governo que, em um espaço tão curto de tempo, tenha feito tanto pela área da segurança – ponderou Pestana.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É de lamentar estas reações tipo "bomba", "descontentamento", "rebeldia" e "insubordinação" proclamadas pelas categorias policiais subordinadas, diante da justiça salarial conquistada por seu chefes e comandantes em paridade com as demais categorias gestores do Estado envolvidas no sistema criminal e jurídico. Ao invés de puxar para baixo, desvalorizar a profissão policial e nivelar por baixo todos os cargos policiais, todos deveriam aplaudir a vitória de seus superiores, mobilizar e animar o esforço na busca da verticalidade para aproximar os salários na mesma justiça dada aos seus chefes e comandantes.
Interesses pessoais e corporativos alterando leis, desrespeito ao teto previsto, disparidades entre o maior e o menor salário, discriminação entre cargos assemelhados e discrepâncias no pagamento de salários, subsídios e vantagens discriminam os servidores públicos, afrontam princípios republicanos, estimulam desarmonia, criam divergências, alimentam conflitos e promovem privilégios a uma oligarquia no serviço público.
Ministro Carlos Ayres Britto, presidente do STF ao cassar uma liminar que impedia a publicação de forma individualizada das remunerações.
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