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Líderes de partidos querem equiparação salarial de autoridades dos três poderes aos vencimentos de ministros do STF - 14/12/2010 às 23h17m; Isabel Braga
BRASÍLIA - A maioria dos líderes dos partidos na Câmara dos Deputados defendeu nesta terça-feira, na primeira reunião formal para discutir o assunto, a equiparação salarial de autoridades dos três poderes aos vencimentos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), hoje em R$ 26,7 mil. A expectativa era de que essa proposta fosse votada nesta quarta-feira na Câmara; porém, a decisão pode ficar para a semana que vem, a última de trabalho antes do recesso legislativo, que se estenderá até o fim de janeiro. O tema voltará a ser discutido nesta quarta-feira em reunião da Mesa Diretora da Câmara.
Na reunião de líderes, o único a ponderar que o melhor seria fazer a equiparação de forma gradual foi o representante do PSOL, Ivan Valente (SP). Ele argumentou que seria uma forma de reduzir a reação contrária da opinião pública à medida.
Outros líderes, no entanto, reagiram, alegando que "apanhariam violentamente todas as vezes" que fosse aplicado reajuste gradativo para se chegar à equiparação.
- O resumo da ópera foi: vamos apanhar todos os dias, o dia todo, mas vamos votar. Se fizermos gradual, vamos apanhar violentamente todas as vezes que for dado o reajuste. O melhor é fazer de uma só vez - afirmou um dos líderes, resumindo o sentimento do grupo na reunião de ontem.
Reajuste para presidente e vice pode chegar a 134%
Pela proposta em discussão - e que ainda precisa ser acordada pelos senadores, já que o projeto de decreto legislativo com o aumento precisa ser aprovado nas duas Casas do Congresso -, os reajustes seriam de 61,8% para deputados e senadores; e de 134% para presidente e vice-presidente da República. Os ministros também teriam seus salários mais que dobrados.
Hoje, os parlamentares ganham subsídio de R$ 16,7 mil. O presidente da República tem salário atual de R$ 11,4 mil. Os ministros da Esplanada, R$ 10,7 mil. Estão excluídos do valor as outras vantagens e benefícios, diretos e indiretos, que todos as autoridades têm.
Nesta terça-feira, o vice-presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que está conduzindo as votações de projetos e também as negociações em torno do aumento aos parlamentares, afirmou que a reunião não teve conclusão. Não havia, na tarde desta terça-feira, definição se a proposta poderá ser votada hoje.
Maia confirmou apenas que a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, responsável por elaborar o projeto de decreto legislativo, se reunirá nesta quarta-feira, às 11h. Líderes que participaram do encontro, no entanto, contam com a votação da proposta ainda nesta quarta-feira, por entenderem que será bem mais difícil promover a análise na próxima semana.
Temer diz não ter objeção aos reajustes
O presidente da Câmara dos Deputados e vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB-SP), afirmou nesta terça-feira "não ter objeção" à votação do aumento dos parlamentares. Disse, porém, que não conduziria as negociações porque renunciará nesta quarta-feira à presidência da Casa, para, assim, poder ser diplomado como vice-presidente eleito na próxima sexta-feira.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Independente do deboche, do abuso, do efeito cascata, da afronta aos eleitores e do custo aos cofres públicos, acha justo a equiparação salarial entre os três Poderes da República. O texto original do artigo 37, inciso XII, da constituição federal, aprovada por uma constituinte, proíbe o pagamento de vencimentos aos cargos dos Poderes Judiciário e Legislativo superiores aos pagos aos cargos do Poder Executivo. Portanto, além de uma violação do princípio republicano da igualdade e de fomentar uma hipocrisia política para evitar ganhos melhores dentro do Executivo, vigora no Brasil um ato imoral e inconstitucional que permite o pagamento de salários mais que o dobro para os cargos do Poder Judiciário e do Poder Legislativo, relegando e discriminando os salários dos cargos do Poder Executivo, cujo teto é o Presidente da República, o Governador e o Prefeito Municipal.
Esta decisão de equiparar o salário dos três Poderes vem resgatar o princípio republicano da igualdade. Porém, chegará um dia em que os altos salários deverão ser congelados para atender a isonomia nos demais cargos nos três Poderes, pois os cofres públicos não vão suportar tamanho ônus para atender os servidores públicos e investir nas políticas públicas necessárias para o atendimento de direitos e do desenvolvimento do país.
Interesses pessoais e corporativos alterando leis, desrespeito ao teto previsto, disparidades entre o maior e o menor salário, discriminação entre cargos assemelhados e discrepâncias no pagamento de salários, subsídios e vantagens discriminam os servidores públicos, afrontam princípios republicanos, estimulam desarmonia, criam divergências, alimentam conflitos e promovem privilégios a uma oligarquia no serviço público.
Ministro Carlos Ayres Britto, presidente do STF ao cassar uma liminar que impedia a publicação de forma individualizada das remunerações.
Quem acompanhou os acontecimentos desde 1964, sabe que tudo ali começou. Os vencimentos entre os Poderes Judiciário e Legislativo muito se distanciaram em relação aos do Executivo. Antes se respeitava a igualdade salarial entre os Poderes Constituídos, hoje o pessoal do Executivo, amarga por cerca de meio século essa disparidade, sem saber a quem apelar -nunca há disponibilidade de caixa e nem vontade política para solucionar a aberração. Claro que ninguém chora de barriga cheia.
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