- "Remuneração dos agentes públicos constitui informação de interesse coletivo ou geral."
Ministro Carlos Ayres Britto, presidente do STF ao cassar uma liminar que impedia a publicação de forma individualizada das remunerações.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

E O SALÁRIO, Ó!,



ZERO HORA 11 de dezembro de 2014 | N° 18010



FERNANDO DE OLIVEIRA SOUZA*



Circula pelas redes sociais uma história, verídica ou não, mas real, que seria cômica se não fosse trágica.

Trata-se de um pai que, ao receber do filho a notícia de que ia abandonar os estudos, resolveu que não iria “sustentar vagabundo” e solicitou a um amigo deputado um emprego para o filho. Alguns dias depois, o amigo retornou a ligação oferecendo um cargo como assessor na Comissão de Saúde do Congresso – salário de R$ 18.700, ou secretário de um deputado – salário de R$ 10.800, ao que o pai respondeu que não aceitava porque assim o filho nunca mais retornaria aos estudos. Solicitou então um emprego com salário mais baixo, e o deputado ofereceu como assessor da Câmara – salário de R$ 7.500. Mesmo assim, o pai achou alto e pediu que o salário ficasse entre R$ 1 mil e R$ 3 mil. O deputado então retrucou que isto era impossível porque, para esse salário, as vagas eram destinadas aos professores, médicos, enfermeiros, policiais e neste caso teria de ter curso superior, com mestrado e doutorado em alguns casos.

Para corroborar esta história, cito meu próprio caso, já que essas informações são disponíveis para todos. Professor associado de universidade pública com 35 anos de atuação em regime de 20 horas semanais, com título de mestrado, doutorado e pós-doutorado, recebendo líquidos R$ 3.400.

Alguma coisa de muito errado está ocorrendo neste país e o custo está sendo e vai ser cada vez maior. Não é possível que assistamos, encastelados nas altas esferas da nação, um grupo de pessoas envolvendo funcionários públicos, políticos e grandes empresários locupletando-se diariamente, como a Nomenklatura da antiga União Soviética, desviando e usufruindo de recursos que seriam corretamente empregados para pagar salários dignos aos professores, policiais, médicos, enfermeiros e outras categorias, e também para melhorar as condições dos hospitais, escolas, presídios, estradas etc.

O saudoso e inesquecível professor Raimundo já se foi, mas o seu bordão continua mais atual do que nunca.



*MÉDICO E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

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