Escolaridade responde por 70% da diferença de salário. Professora ganha, na rede municipal, o triplo do que paga a rede privada
Carolina Benevides e Antônio Gois (Com Letícia Lins) - O GLOBO, 01/07/12 - 16h35
RIO - No Brasil, pesquisas apontam que o grau de escolaridade responde por aproximadamente 70% do diferencial total de salários. Professor do Ibre da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rodrigo Leandro de Moura é autor de um estudo sobre o quanto a escolaridade influencia nos salários dos setores público e privado.
Segundo ele, com os dados da Pnad 2009, foi possível constatar que no setor público, o profissional que concluiu o ensino superior tem rendimento 20,18% maior do que aquele que só fez o ensino médio. Na iniciativa privada, o rendimento é 16,48% maior. Uma diferença de 3,7%.
— A pesquisa engloba dados de 1992 a 2009 e o setor público, na maioria dos anos, pagou mais para quem tem ensino superior do que o setor privado. Imagino que por conta do Distrito Federal, onde a renda per capita é melhor, onde estão os melhores salários do funcionalismo — explica Moura.
Quando apenas o Rio é analisado, no setor privado, os trabalhadores com ensino superior recebem 15,53% a mais do que os que concluíram só o ensino médio. O funcionalismo público, por sua vez, tem um rendimento 13,37% maior.
Professor de Economia da USP-Ribeirão Preto, Walter Belluzzo é um dos autores de um estudo que separou o ganho dos servidores públicos por esfera de governo. Constatou que as pessoas com mais escolaridade ganham mais se estiverem empregadas na iniciativa privada do que nos governos estaduais e municipais. No entanto, no governo federal, não importa o grau de escolaridade: o trabalhador vai ser melhor remunerado no setor público.
— No geral, o setor público sempre paga a mais, mas também tem algumas distorções. Por exemplo, um professor doutor ganha, em média, R$ 7,5 mil numa universidade pública. Um técnico começa na mesma instituição ganhando R$ 5,5 mil. Com o passar dos anos, ele pode vir a ganhar mais do que o professor, ainda que o professor receba mais na instituição pública do que na privada — diz Belluzzo.
Há 20 anos dando aulas, a pernambucana Maria do Carmo Freire de Alencar leciona em uma escola municipal e em outra particular, em Jaboatão dos Guararapes. Seu contracheque marca R$2,6 mil na pública e R$900 na privada, valores que comprovam o que o Censo 2010 aponta: mesmo professores ganham mais no setor público.
— Hoje quem ensina em escola do governo conta com piso de R$1.451, enquanto na particular é de apenas R$630, um pouquinho mais que o salário mínimo — diz Maria do Carmo, lembrando que o piso do governo implica em 180 horas/ aula por mês, enquanto na particular essa obrigação é de 105 horas/mês: — Na prática, como na particular não temos hora reservada para planejamento, preparação de provas e correção , não trabalhamos só 105 horas/mês e não recebemos por isso.
Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fernando Matos reconhece que o setor privado paga mal no Brasil:
— É um setor grande, heterogêneo, que, em 2005, englobava 89% da população empregada. Esses funcionários, por conta da alta rotatividade não têm muito poder de barganha. Agora, o setor público não paga melhor porque tem menos gente. A média salarial é maior porque inclui desde as pessoas menos escolarizadas até aquelas que trabalham, por exemplo, no Judiciário, na PF e nas embaixadas.
Interesses pessoais e corporativos alterando leis, desrespeito ao teto previsto, disparidades entre o maior e o menor salário, discriminação entre cargos assemelhados e discrepâncias no pagamento de salários, subsídios e vantagens discriminam os servidores públicos, afrontam princípios republicanos, estimulam desarmonia, criam divergências, alimentam conflitos e promovem privilégios a uma oligarquia no serviço público.
Ministro Carlos Ayres Britto, presidente do STF ao cassar uma liminar que impedia a publicação de forma individualizada das remunerações.
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